21 dezembro 2006

DESVIO DE QUE MESMO?

Deu no Rascunho 78, outubro de 2006, Teoria dos Versos, via Ronaldo Costa Fernandes (DF). Destaque para o trecho em negrito, para que não fiquemos buscando apenas formalidades:

Os formalistas russos foram os primeiros a sistematicamente abordar a produção literária como desvio. (...) Sobre o fato de que a linguagem literária se afasta do coloquial parece que todos estão de acordo. Também concordam quando se afirma que a linguagem dita coloquial ingressa no poema, deixando de fazerparte de um código que se restringe à comunicação e ao intercâmbio social, para fazer parte do código poético. A teoria do desvio e do estranhamento nos seduz porque não é apenas um apetrecho lingüístico, mas uma produção de sentido, de formação de pensamento poético, distinto do pensamento da linguagem coloquial e distinto mesmo da filosofia ou do pensar do ensaio. (...) Logo, o estranhamento não é apenas verbal, mas conceitual. O desvio se opera não na dificuldade ou no grau de distorção da linguagem, mas ao apresentar um fato lingüístico novo, original, uma maneira inteligente e pertinente de "sentir-pensar" o mundo. O desvio não é também um desvio mental, que poderia ser interpretado como uma forma esquizofrência de representar a realidade, mas é uma maneira de mostrar a realidade de um ponto de vista distinto daquele que a linguagem comum apresenta cotidianamente. A poesia é um deslocamento, a partir do ponto de vista do poeta que observa o mundo, e também um centramento, já que o poeta reinterpreta a realidade e a apresenta (e nomeia) como um mundo possível e poético.