07 dezembro 2005

POETA CONVIDADO: CARLOS BESEN


Como sempre faço, pedi para o poeta Carlos Besen me enviar dois poemas. Ele escolheu os que venceram o concurso Palcohabitasul da 51ª Feira do Livro de Porto Alegre, 2005. Fresquinhos e inéditos, aqui estão:


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RACIONAL, RACIONADO


Em migalhas,

a luz do milho ruída em mim,
indago se estou nu
ou se sou núcleo.

Aos farelos,

ignoro se disseminado
ainda semeio.

Íntegro,

estive amarelo,
mas não estava vencido.

Era tarde,
não me convenci.

Devorei
minha própria lucidez:

em migalhas,

sobro o que nem sequer cogito.



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ROUPA DE ESTAR FORA DE CASA

Ao sair de casa, bagunço o aroma da mala.
Ensino os tecidos a compreender as cicatrizes
do amassado, prometo mostrar a água como ferida,
mas a roupa amarrotada precipita o mar roto, remoto
como areia de praia, que só jaz na praia.

Não me extravio com a cidade de dentro
se abandono roupas demais no armário. Um cheiro
que não partiu comigo me prende ao amargo.
Uma camisa que deixo por causa de uma mancha
reclama a falta que um sinal faz à pele do braço.
Há coisas que são o corpo.

Não me confundo com a cidade de fora
se meu tronco for uma prateleira vazia,
brevidade abortada de um farrapo. Mesmo uma
árvore se veste. Se uma roupa me tem amor,
sinto que meu esqueleto está em cabide errado.
Nu, vou longe sem sair do umbigo.
A nudez é a sua própria casa,

- a cidade, uma maneira de estar vestido.



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CARLOS BESEN, Porto Alegre - RS, 2005.

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3 Comments:

Anonymous Anônimo disse...

O poema de Carlos Bessen nos faz refletir. Acompanho em seu blog suas palavras e escrita diferenciada. Aprecio seus poemas e textos. Ótima escolha!
Abraços de São Léo

8/12/05 10:08  
Blogger Cezar Dias disse...

bons os textos dele, né?

8/12/05 15:25  
Anonymous Anônimo disse...

Besen não é mole não. Veja isso: Aos farelos,
ignoro se disseminado
ainda semeio.

9/12/05 21:11  

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