Sobre Quichiligangues, por Carlos Lopes
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O que quer dizer este nome estranho? Sidnei não é poeta de deixar obscuridades a afastá-lo do leitor. Pelo contrário, vê no leitor o seu semelhante. Na última página, esclarece: Quichiligangue s.f. Insignificância, bagatela.
É, portanto, um poeta que não se contenta com o vocabulário de cada dia – onde as palavras acabam gastas em seu significado. Assim são as suas bagatelas, em que se sente, ao lê-las, aquilo que se chama prazer estético – o sinal da verdadeira obra de arte.
Alguém, parece que Flaubert, definiu a literatura como a luta contra o lugar-comum. Poderia ser uma conceituação precisa da poesia de Sidnei, onde jamais encontramos solução fácil para o poema – aquela em que o extremo exemplo é a caricatural rima de bosque com quiosque, mas que, em fórmulas menos ridículas, costumam infestar determinados livros de poesia.
Não é um poeta que tem aparente facilidade em fazer o poema. Pelo contrário, ele não concede espaço para o automático. Em cada linha o esforço do fazer é uma marca, um registro típico do seu poema.
Poderíamos apontar também como Sidnei se apropriou de determinadas conquistas da poesia moderna – Eliot, Pound, Rilke, Valery - sem resvalar para o solipsismo (o “eu sozinho”) que matou tantos dos poetas que seguiram essa vertente.
Porém, melhor será que o leitor comprove se estamos ou não exagerando. Em caso de dificuldade em encontrar o livro – a distribuição de livros no Brasil ainda não entrou no PAC do presidente Lula – basta pesquisar na internet.
Carlos Lopes é jornalista, escritor e psiquiatra em São Paulo. Autor de “Cão”, poemas, Rio, 1968; “Jacques Monod e o determinismo”, ensaio, Rio, 1972; “Princípios gerais em psicoterapia”, Recife, 1980; “Noigandres é uma noz grande”, ensaio, Fortaleza, 1987; “A voz interior em José Alcides Pinto”, ensaio, Fortaleza, 1989; “Brasil, uma interpretação histórica”, São Paulo, 1998; “Desafios éticos atuais na psiquiatria”, Brasília, 2001. Texto publicado no jornal Hora do Povo, por ocasião do lançamento do livro em 2008, sob o título "Encontro da poesia com a vida em novo livro de Sidnei Schneider".
Marcadores: Crítica, Quichiligangues
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