VLADIMIR MAIAKÓVSKI
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Se hoje alguns temas chegam a ser considerados proibitivos à poesia - como os da esfera sócio-econômica e política - por um certo pensamento conservador travestido de moderno que reedita o equivalente às antigas proibições sexuais, o poeta russo tem algo de atual a dizer, derrubando muros e cerquinhas. Rejeita, igualmente, o que não atingiu o artístico.
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Palavras que flutuam no ar:
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Palavras que flutuam no ar:fumaça que dissipa logo.
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Nada se pode extrair
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Nada se pode extrairdessas cascas de ovo.
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Nem cabeça nem mãos
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Nem cabeça nem mãossentirão nada novo.
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Sei que
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Sei quesorrirá
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Sei que sorrirácom amargura o lírico,
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precipitado
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precipitadoempunhará
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precipitado empunharáa vara o crítico:
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- E a alma, onde está?
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- E a alma, onde está?Isso é pura retórica, linear!
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E a poesia, cadê?
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E a poesia, cadê?Panfletário demais!
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Eu escreverei
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Eu escrevereisobre tudo,
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.Eu escreverei sobre tudo,sem preconceito,
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mas agora
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mas agoranão é hora
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mas agora não é horade palavrinhas-confeito.
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A ti
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A tite dou
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A ti te douatacante classe obreira
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toda minha força sonante
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toda minha força sonantede poeta.
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VLADIMIR MAIAKÓVSKI, 1893-1930.
Tradução Sidnei Schneider, 1993.
4 Comments:
não sei. acho que está um pouco exagerada a sua opinião sobre os temas proibitivos. proibitivos são os temas escritos de uma mesma maneira que já esteja esgotada. quem souber fazer poema social de uma maneira diferente, com qualidade, que o faça. tenho certeza de que será bem aceito. seus poemas, como aquele do palhaço e coisa e tal pecam, na minha opinião de leitor médio, no sentido de não dizer nada que já não tenha sido dito, daquela maneira inclusive. mas...
Alcir Verdum
amigo, falo sobre uma posição que tem urticárias pelo corpo todo quando ouve falar em certos temas, antes mesmo de avaliar qualquer coisa sobre qualidade. para ser bom o poema, não basta ser diferente, esquisitinho, marciano. qualidade não diz respeito apenas à questão formal, é inseparável da aproximação, maior ou menor, do poema em relação à vida, à época, ao real. não concordo quanto aos poemas que propões proibir, muitas vezes são um caminho, quase inevitável, para alçar vôos melhores e mais bonitos. escrevi mais de um poema sobre o palhaço.
sidnei, não sei onde você leu que proponho proibir qualquer coisa. penso que todos os temas devam ter acesso livre, se forem feitos com qualidade, com verdade e com todas as coisas que você diz serem necessárias. mas todos os temas devem ser deixados de lado se lhes faltar o que já dissemos, etc. a literatura ruim não deve ter espaço. quando digo "diferente", não quero dizer "esquisitinho", "marciano", e sim que não se repita aquilo que já foi feito. gostamos dos sonetos do augusto dos anjos, mas - hoje - não vamos repetir essa fórmula, vamos? ah, quando digo "literatura ruim", não quero dizer que o maiakóvki seja ruim, mas não quero que se façam poemas socias à maiacóvski, mas, como diz, a partir dele. há um conterrâneo seu, o 2 santos, que diz que 99% dos que tentam o poema social falham (ele diz isso melhor do que estou dizendo). li, ou melhor, lemos seu livro aqui em campinas, e comentamos. sei que há 2 poemas do palhaço e, não veja aqui um ataque, mas nenhum deles nos tocou como tocaram tantos outros.
Alcir Verdum
acho que o conterrâneo tem razão, mas proponho aumentar um pouquinho a abrangência: 99% dos poemas de amor são ruins, etc. 99% dos poemas são ruins! por que com outros temas somos mais condescendentes? não há nenhuma questão nisso? não teria razão o luiz augusto fischer ao apontar que o tema da política sumiu da literatura e que ela tem sido cada vez mais a expressão média de uma visão de mundo da classe média? acho que é grande o desafio colocado à poesia brasileira, e lamentavelmente não tenho dado conta do recado. talvez eu nunca tenha escrito nada que valesse a pena, ainda que eu goste um pouco de uns dez de tudo que escrevi na vida. do livro, dois. não deu pra entender bem se vc se refere ao modo de a. dos anjos ou aos sonetos em geral, mas adianto que gosto muito de alguns sonetistas atuais, como paulo henriques britto, p. ex. abraço.
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