POETA CONVIDADA: NELI GERMANO
NO TERMINAL
Sentado, ele ria - ria muito
Nada via - e ria
Roupa rosto sapato, em fatia
Dentes grandes, olhar estreito
Agachando-se em sua caixa de engraxate,
De cu pras estrelas,
a-dor-mecia
CASA DE INFÂNCIA
1
Meia-água
Madeira novinha, perfurada por nós de pinho
Coberta de telhas vermelhas: francesas e cumeeiras.
Por que meia água?
Como poderia uma tábua nova ser furada? e por nós...
De que lugar teriam vindo as telhas que não eram francesas?
2
Minha mãe amava juntando latas de azeite vazias,
e meu pai, à noite, desmanchando-as com suaves marteladas,
até tapar todos os buracos dos nós das tábuas.
Logo logo nasceria mais um bebê,
minha mãe teria que se proteger do minuano
na quarentena.
3
Meu pai amava construindo um puxadinho:
a lavanderia da casa.
E minha mãe, lavando roupas:
uma trouxa por dia.
Neli Germano, 2007
Marcadores: poeta-convidado
5 Comments:
Para não cortar os versos compridos, a fonte precisou ser pequena.
à maneira do seu Fulano da Palavraria: Gostei!
eu tb!
tem leveza. sérgio ritter
Neli, versos de muita experiência humana vivida, observada, filtrada e concentrada.Tempo e sensibilidade.
Poesia diz presente!
Parabéns e um abraço.
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