28 maio 2007

POETA CONVIDADA: VIVIANE JUGUERO

............................................................................ Fotografia Carlos Cruz
O poeta é um fazedor. Os gregos, que sabiam das coisas, quando precisaram de uma palavrinha para se referir a um, foram logo dizendo, o que faz. Conhecer a Viviane é conhecer uma pessoa com alta voltagem criativa, cheia de habilidades. É Atriz. Diretora. Poeta. Contista. Dramaturga. Compositora. Agitadora Cultural. Produtora de Eventos. Dirige o Teatro de Arena de Porto Alegre. Uma maquininha de fazer? Não, nada disso, o que ela faz é que é importante. O poema aqui apresentado, por exemplo, trata de agudizar palavras: as do início não serão jamais as mesmas quando lidas no final. Viviane constrói um escorregador que vai agregando sentidos, até que possamos, sentados com a bunda na areia, refletir sobre o que aconteceu, com as palavras e conosco.

Nos termos que escolhe, podemos ler outros, embutidos. Se isso é possível em várias línguas, na poesia japonesa chama-se kakekotoba, a passagem de uma palavra por dentro da outra, nela deixando seu perfume. Qualquer coisa como escrever nuvens e ler, também, nu vens. A perspicácia do leitor saberá encontrá-las.

Particularmente, gosto dos versos Sobre a língua/ Repousa a dádiva. Alguém se chateia com minúcias? Olhemos bem para essas palavras, língua e dádiva. Do ponto de vista das vogais são quase invertidas, uma soa dentro da outra. O som sibilante de Sobre se suaviza em Repousa, apoiado sobre um “o” tônico e oco presente em cada uma.

(E o que dizer de Ânsia do êxtase? E de Aveludam as mucosas?)

Antes de entregar o leitor ao poema, voltemos ao início desse texto, mas então, o que Viviane faz? Linguagem, formas que raspam nossos pêlos e os autorizam a sentir.

DEVOÇÃO

Prostração preambular
Enceta o ato
Os joelhos – indolentes
Ignoram a superfície frígida
Entre júbilo e ardor
Curva-se
Agarra exultante
Como se expirasse
Como se não mais pudesse
Como chance ímpar sem par

Contato rústico místico
Rijo, o pau imponente
A tenra carne macula
Pressão progressiva
Ânsia do êxtase
Da erupção
Dos mistérios contidos
No cilindro sagrado

Veias pulsantes
Deslizam e paralisam
Ante o obstáculo transversal
Sôfrega, numa carícia
Roça os lábios bem na ponta
Mais abaixo
Mais abaixo
Estremece

Sobre a língua
Repousa a dádiva
Dissolvendo paulatinamente
Sem pressa
Néctar branco e saliva simbiônticos
Aveludam as mucosas
Penetrando a intimidade da garganta

Comovida com a eucaristia
Madre Laurinda
Aparta o crucifixo
Findando seu rito diário de fé
Como se expirasse
Como se não mais pudesse
Como chance ímpar sem par

1 Comments:

Anonymous Anônimo disse...

viviane é foda !

1/6/07 02:40  

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