POETA CONVIDADO: JOSÉ ANTÔNIO SILVA
Tiques & Taques (São Paulo: Klaxon, 1984) foi seu primeiro livro de poesia, hoje raridade. Seguiu-se o excelente Lá vem o que passou (Porto Alegre, SMC, 1995), da Coleção Petit Poa. Desses, vão publicados abaixo um poema de cada.
É autor da novela Diabo Velho (Porto Alegre: Mercado Aberto, 1998) e de O nome do Fuinha, e outras histórias de crime, mistério e algum amor. (Porto Alegre: AGE, 2003). Resenhas e ensaios jornalísticos estão reunidos em A Impressão da Cultura (Porto Alegre: Sulina, 1990).
Mas começou a publicar na década de 70, no antológico Há Margem (Porto Alegre: Lume, 1975), com outros doze autores, entre os quais Nei Duclós e Sérgio Capareli. O título não evidenciava apenas a literatura marginal produzida na época, indicava uma convicção na possibilidade de superar os anos difíceis de ditadura. Seguiu-se Vício da Palavra (São Paulo: Garnizé,1977), esforço cooperativado de 28 escritores, entre eles Caio Fernando Abreu, e ilustradores como Jayme Leão, Chico Caruso, Magliani, Santiago e Cláudio Levitan. Na década de 80, com os poetas Celso Gutfreind e José Weis, articulou o Vício e Verso, que fazia apresentações de poesia. Participou da revista-livro Continente Sul-Sur nº 9 (Porto Alegre: IEL, 1998.) e de Antologia do Sul, poetas contemporâneos do RS (Porto Alegre: Assembléia Legislativa, 2001), reunião de 90 poetas em plena atividade no período.
Mais poemas, contos e crônicas de José Antônio Silva, que também é jornalista, em Lavra Livre, blogue no qual se diverte: agora/ como um cão/ eu curto um post.
PURA
És tão pura,
sua puta
- além da imagem.
És puríssima
- Deus sabe.
Sabe o frade?
És a puta
sem pecado,
rito de passagem.
És purinha
- toda puta –
entre as comadres.
És pura mistura,
o tanto da flor,
a cara de laje.
És tão puta
- mas tão pura –
que isso arde.
És pura puta,
minha santa
- és o auge.
Lá vem o que passou, Col. Petit Poa,
Porto Alegre, SMC, 1995.
GAFANHOTO SÓ
Lá vem o gafanhoto
no meio da rua
frágil ágil
(na inconsciência
do quanto é vulnerável)
Um palito
com duas pernas secas
e dois braços tal e qual
enfrentando – chinelo de dedo –
o mundo moderno
ocidental
digital
exato caos
Lá vem ele
o gafanhoto
- por favor, um pouco de emoção! –
rufem os tambores
do coração
para o triplo salto mortal:
um gafanhoto
na Avenida São João
Tiques & Taques, São Paulo: Klaxon, 1984.
PORTO
Havia um porto premeditado
entre peixes
navios
e águas virtuais;
havia um ponto no futuro
ainda antes de haver porto
barcos
ou qualquer água;
havia um poço em ebulição
onde tudo se formava
definia
projetava;
havia um posto avançado da vida
- como a conhecemos -
no tecido do infinito.
Havia a cintilação do que há hoje
como imagem
que apenas esperava:
um porto singelo
num estuário de lago e rio
onde um pequeno bote
a remo
deixa seu rastro invisível
lento
pela memória das águas.
Antologia do Sul, Poetas Contemporâneos do RS,
Porto Alegre: Assembléia Legislativa, 2001.
Poemas de José Antônio Silva.
Publicação autorizada pelo autor.
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4 Comments:
Que dizer? Que dizer?
Putz, puta poema!
Bj!
beleza pura.
bj,
lúcia
frágil agil
(na inconsistência
do quanto é vulnerável). Os três poemas carregam esses elementos contraditórios, surpreendem. Jorge Fróes
beleza de seleção Sidnei; é muito bom ler José Antônio Silva!
parabéns ao Umbigo do Lago pelas quarenta e duas mil novecentas e muitas páginas visitadas! bjs
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