POETA CONVIDADO: JORGE FRÓES
DANÇO
Queres saber por que eu danço
danço porque vozes do passado
cantam para mim
e então respondo.
Danço porque sou Kikongo,
Kimbundo, Baluba...
Danço para que a poeira
que assenta em meu corpo
seja somente do ato de dançar.
Danço para libertar minha africanidade.
Danço porque o vento dança,
as flores, os bichos,
e esta é minha forma
de integração.
Danço para que lanças-de-desrespeito
não me atinjam,
mas sobretudo danço
porque vozes do passado cantam
e eu respondo.
Jorge Fróes, Porto Alegre-RS
Publicado no encarte Revista Negra,
da Revista Porto e Vírgula,1995
MAR
Ó mar !
Esquecer dói mais que lembrar.
Lembrar é assegurar novos dias.
Há no fundo do teu ser,
imersa, uma dor imensa
que revolve em teu
gigantesco estômago
o amargo gosto
de uma indesejável alimentação.
Das longas travessias...
Mar vermelho,
mar negro,
milhares,
mar morto.
Ó mar !
Esquecer dói mais que lembrar.
Jorge Fróes, Porto Alegre-RS
Publicado na Revista Continente Sul /1997
Marcadores: poeta-convidado
1 Comments:
A brasileira africanidade desses poemas é não só evidente como muito bem construída. Estou dançando com Danço e Esquecer dói mais que lembrar é um verso muito bonito. Edson
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