07 junho 2005

POETA CONVIDADO: JORGE FRÓES


DANÇO


Queres saber por que eu danço
danço porque vozes do passado
cantam para mim
e então respondo.
Danço porque sou Kikongo,
Kimbundo, Baluba...
Danço para que a poeira
que assenta em meu corpo
seja somente do ato de dançar.
Danço para libertar minha africanidade.
Danço porque o vento dança,
as flores, os bichos,
e esta é minha forma
de integração.
Danço para que lanças-de-desrespeito
não me atinjam,
mas sobretudo danço
porque vozes do passado cantam
e eu respondo.

Jorge Fróes, Porto Alegre-RS

Publicado no encarte Revista Negra,
da Revista Porto e Vírgula,1995




MAR


Ó mar !
Esquecer dói mais que lembrar.
Lembrar é assegurar novos dias.

Há no fundo do teu ser,
imersa, uma dor imensa
que revolve em teu
gigantesco estômago
o amargo gosto
de uma indesejável alimentação.

Das longas travessias...
Mar vermelho,
mar negro,
milhares,
mar morto.

Ó mar !
Esquecer dói mais que lembrar.


Jorge Fróes, Porto Alegre-RS

Publicado na Revista Continente Sul /1997

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1 Comments:

Anonymous Anônimo disse...

A brasileira africanidade desses poemas é não só evidente como muito bem construída. Estou dançando com Danço e Esquecer dói mais que lembrar é um verso muito bonito. Edson

21/6/05 01:47  

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