18 junho 2005

A CABELEIREIRA



Entre os dedos ela ensaia meus cabelos.
Traça à mão o formato do pescoço.
Claro que percebe todos os arrepios.

Prende a respiração nos olhos azuis
e, por cuidado, redobra em carinhos
o que cega saberia bem fazer.

Dona dessa precisão felina da mulher,
tapeia água perfumada nos meus flancos.
Só a gelada navalha supera sua tesoura.

Banha-me três vezes a cabeça porque quer.
Assinto que é muito relaxante.
“Que bom”, agradece recompensada.

Rodeia-me sem levantar a cadeira.
O peito arfa inclinado sobre mim.
Desculpa-se com a colega: esquecimento.

Não sei se olho sua pele, olhos ou ventre.
Compreendo então que fala com as mãos
e me permito, inteiro, ao seu tato.

Já temos algo em comum. Cúmplices
no que ainda não se tornou palavra.
Abana com os cílios quando lhe dou adeus.


Sidnei Schneider
de Plano de Navegação

1 Comments:

Anonymous Anônimo disse...

Todo mundo já passou por isso, mas eu nunca tinha visto em forma de poema. Valeu, poeta.
Edson Porto

21/6/05 02:19  

Postar um comentário

<< Home