EXPOSIÇÃO 1ª PESSOA: PESSOAS
Sidnei Schneider
O verbo ser não existe em algumas línguas. Para os seus
falantes a ideia de “eu sou” é estranha. O que seria a identidade, então? O
relativo ao que em nós é estanque ou ao que se constrói ao longo da vida? Compartilhamento
da cultura grupal, que em grande parte a define? Algo perceptível somente em
relação ao outro, ao que é diferente de mim? Um espelho que nos conhece e que
desconhecemos?
A palavra pessoa,derivada do latim persona, aludia à máscara através da qual a voz do ator soava. No nascedouro, portanto,
referia-se a um personagem, distinto do eu. O poeta Arthur Rimbaud disse-o de modo contundente: “Eu é um outro”. O euconstituindo-se através das identificações e dos significantes que vem do outro, segundo a psicanálise.
A contradição interna originou a ideia do duplo, com Dr. Jekyll e Mr. Hyde, de Stevenson, os dois William Wilson, de Poe, Borges e eu, do próprio. Mário de Andrade foi além: “Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta”. Walt Whitman pretendeu incorporar a todos num paradoxal Canto a mim mesmo: “Eu me contradigo?/ Muito bem, eu me contradigo,/ (Eu sou amplo, abrigo multidões)”.
Constituímo-nos de relações desde que começamos a escorregar por um túnel de úteros há milhões de anos: “quem não tenha necessidade dos outros homens... se não é deus, é um animal”, apontou Aristóteles. Ideias ou vontades nos definem menos do que atos. Para o artista,
a ação mais importante está na arte que produz. É o que vinte e uma pessoas, para além da reunião das suas individualidades, oferecem aqui.
Apresentação da Exposição 1ª Pessoa: Pessoas. Clique no convite.
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